MINI METRÔ, CARRO INDIVIDUAL, PROJETOS E CONCEITOS CRIATIVOS MARCARAM O WORKSHOP DE MOBILIDADE URBANA DA AEAS

Acompanhado por perto de 500 pessoas, a maioria estudantes, foi considerado um sucesso o workshop de Mobilidade Urbana que a Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Sorocaba realizou dia 4 de setembro, no Parque Tecnológico de Sorocaba, com patrocínio do sistema CONFEA/CREA, evento marcado por palestras de especialistas sobre o tema geral Soluções Inovadoras e Domínio Tecnológico por Brasileiros.

Uma das novidades foi apresentada pelo Engenheiro Mecânico e Automóvel José Carlos Carneiro e pela Arquiteta e Urbanista Sandra Lanças: o projeto-conceito de um mini metrô desenvolvido especialmente para Sorocaba. Sandra mostrou as características urbanas do centro da cidade, com enormes dificuldades na busca de espaços para intervenções no sistema viário, e chamou a atenção para o “valor do subsolo” como espaço livre para receber infraestrutura tecnológica a serviço de uma cidade mais humana e inteligente.

É nessa perspectiva que se encaixa o projeto original do mini metrô que circularia, numa solução de engenharia criativa, assim como um “elevador horizontal subterrâneo” (uma cabine), movido eletronicamente dentro de tubos, técnica pela primeira vez adaptada e desenvolvida para o transporte de pessoas. O engenheiro Carneiro, autor da proposta, explicou que a ideia representa um transporte rápido, confortável e barato, tanto na parte operacional como na tarifa, e que o custo inicial seria 7 vezes menor que o de um metrô convencional.

Por meio de fotos, desenhos e animações gráficas, o engenheiro mostrou as duas fases do projeto idealizado para Sorocaba: o Anel Central (centro histórico) e o Anel Perimetral (centro expandido). A capacidade seria de 4.300 passageiros/hora a uma velocidade de 111,5km, no anel central, e 35 mil passageiros/hora no anel periférico. O veículo superleve sobre trilhos subterrâneos seria alimentado em pequenas estações a cada 800 metros.

ALTA DEMANDA SOBRE TRILHOS

O projeto apresentado por José Carlos Carneiro e Sandra Lanças vem ao encontro do que disse no workshop o palestrante Marcus Quintela, Mestre em Transporte. Para ele, não tem como a mobilidade urbana nos grandes centros fugir do uso de veículos sobre trilhos (trem, metrô, VLT) para atender à grande demanda. “Transporte sobre trilhos é consenso mundial, por razões de economia de tempo de viagem, segurança e desempenho”.

Ele ponderou que muito se fala em mobilidade urbana, cidades inteligentes e em preparar as cidades para o futuro, mas que pouco se faz de prático, em planejamento e ações estratégicas para garantir a chegada deste tempo no tempo certo. Ela afirma que no mundo todo 75% das grandes cidades não estão preparadas para a atualidade, para os próximos 20 anos, muito menos para 2050, que é a meta ideal, em termos de planejamento sustentável para a evolução da demanda qualificada.

Quintela defende o conceito do transporte público totalmente integrado, capilarizado e econômico para se chegar aonde se quer de diversos modos, por um sistema de multimodalidade, capaz de garantir a integração dos sistemas e da tarifa.

Para isso, explica que é necessário um planejamento único, metropolitano, para garantir a cadeia sustentável de mobilidade que integre, em sequência, andar a pé, de skate, de bicicleta, de Uber, ônibus, BRT, VLT, trem, metrô e outras formas.

“A demanda e a realidade da cidade é que definem o sistema. O futuro não está acontecendo, está somente no papel, nos conceitos e apenas começando nos projetos básicos de engenharia. Menos de 6% das cidades brasileiras têm plano de Mobilidade Urbana.” Quintela enfatiza que mobilidade urbana deve ser política de Estado, com continuidade, não vulnerável a um governo ou à visão política momentânea.

CARRO INDIVIDUAL

O predomínio do transporte público sobre o particular é uma tendência mundial, mas o carro por certo terá o seu lugar no contexto da mobilidade urbana futura. É o que demonstrou o Engenheiro Cláudio Castro, Diretor Executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da Schaeffler, empresa multinacional com unidade em Sorocaba, líder mundial em soluções de mobilidade nas áreas ferroviária, aeronáutica, marítima e terrestre, bem como na área de energia.

Para Cláudio, a indústria atual antecipa o futuro da mobilidade, de olhos nos desafios de hoje para as soluções de amanhã. “Antes a tecnologia trabalhava apenas para produzir daforma mais eficiente e econômica possível um determinado produto. Hoje, ela busca soluções tecnológicas avançadas para novos conceitos, definidos pela exigência do consumidor”.

É nesse sentido que a empresa está desenvolvendo agora o conceito para o carro individual, único, “Movie”, que será lançado em 2030. Nele, cabe só uma pessoa, pode ser elétrico ou híbrido, de fácil estacionamento e circulação e que ocupa só 3m2 no trânsito, ao contrário do carro atual que ocupa 7m2.

É tempo de agregar inteligência, estilo de vida, unir energia humana ao veículo elétrico, afirma Cláudio.  E cita o desenvolvimento de uma bicicleta elétrica que só anda se pedalar, ajustável ao gasto de calorias desejado pelo condutor, se está passeando, exercitando-se, indo para o trabalho, ou todas essas coisas ao mesmo tempo.

MOBILIDADE EM SOROCABA

Em sua palestra, Luiz Alberto Fioravante, Secretário de Mobilidade e Acessibilidade de Sorocaba, mostrou o estágio atual do sistema de transporte coletivo de nossa cidade e as novidades que estão chegando.

Destacou o início da implantação do projeto do BRT que pretende dotar a cidade de 48 km desse sistema de transporte rápido, que será integrado ao VLT aproveitando os trilhos já instalados no município, de Leste a Oeste.

Sorocaba, destacou o secretário, já conta com 127 km de ciclovias, número que será aumentado e melhorado. O sistema Interbike que hoje conta com 200 bicicletas será ampliado com a incorporação de bicicletas elétricas.

Sobre a gestão e controle do sistema, Fioravante mostrou a utilidade do Cartão do Cidadão, já lançado, que além de controlar e integrar o sistema, oferece outros serviços por ter plataforma de uso multifuncional.

A expectativa da Prefeitura é de que a consolidação desse sistema amplie o número de usuários/dia para garantir a sua sustentabilidade econômica. Nesse sentido, Fioravante informou que o uso do transporte por aplicativos, como o Uber, ganhou relevância em Sorocaba: 70 mil pessoas já se deslocam pelo sistema de aplicativo por dia.

USO DE SOLO JUNTO COM PLANO DE MOBILIDADE

O arquiteto e professor Cândido Malta apresentou um roteiro básico para a revisão de Planos Diretores, com ênfase na Mobilidade Urbana. E viu como muito positivo o fato de Sorocaba buscar a utilização da estrutura já existente da antiga linha férrea.

Malta defende uma política de Desenvolvimento Urbano que contemple os aspectos social, econômico, territorial e ambiental, com entrelaçamento entre eles.

O professor afirma que no geral “os chamados planos diretores não são planos diretores porque não são planos que nascem a partir de diretrizes e conceitos fundamentais. O correto é as cidades terem Zoneamento Urbano combinado com o Plano de Mobilidade. E também com o Plano de Bairro, pormenorizando o Plano Diretor para as características dos pontos diversos da cidade, equipamentos públicos e a micromobilidade. Acha fundamental a definição de tipologia de construções para cada bairro, inclusive com definições matemáticas sobre os limites de ocupação construtiva.

Ele considera como núcleo duro de um Plano Diretor as questões de uso de solo, mobilidade, habitação e plano de saneamento básico, o que garante a continuidade do que se planejou bem antes, independente do governo de ocasião, prevenindo-se da especulação imobiliária “que está a serviço do desplanejamento urbano”.

CIDADE PARA AS PESSOAS

A jornalista Natália Garcia, criadora do Projeto “Cidades para Pessoas”, em tom testemunhal trouxe suas experiências vividas em mais de 100 cidades em vários partes do mundo.

“O que move as pessoas são as oportunidades”, afirma ela, enfatizando que “nossa experiência de cidade nos molda”. Ela contou como sua vida mudou, como passou a ter outra perspectiva sobre a vida as coisas a partir do momento em que começou a andar de bicicleta. “Nossa mente é invadida por outras sensações, mudanças enriquecedoras, passamos a ter um outro olhar sobre a vida e o convívio, valorizando a diversidade, percebendo que a mobilidade urbana e a conexão entre as pessoas ficam enriquecidas”.

Para a jornalista, as ruas são subutilizadas. Ela compara a estrutura viária como o “hardware” e o modo como usufruímos da paisagem urbana é o “software”.

Natália ficou bem impressionada com Sorocaba, com as ideias apresentadas no workshop e as possibilidades que a cidade oferece para uma mobilidade mais humana e eficiente, lembrando que, no fundo, somos todos pedestres.

Ela chegou a sugerir que o Cartão de Cidadão lançado aqui ganhe novos aplicativos. Como a soma de pontos para quem usa o carro compartilhado, a bicicleta e outros serviços, o que, pela integração dos sistemas, pela acumulação de pontos, poderia garantir descontos ou até uma eventual cobrança zero em determinado deslocamento no sistema viário.

Para o José Carlos Carneiro, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Sorocaba, o workshop Modalidade Urbana cumpriu sua finalidade: “Mostrou a criatividade da engenharia e arquitetura brasileira aplicada também aqui em Sorocaba, a serviço da solução de problemas”, criando ainda “uma mentalidade tecnológica atualizada com os novos tempos”. Para ele, o interesse demonstrado pelos presentes, sobretudo de estudantes de Engenharia, Arquitetura, de cursos técnicos e voltados para a tecnologia, é uma prova de que o evento foi significativo”.

 

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